segunda-feira, 30 de junho de 2008

pão do tédio


velhas mãos modelam o queixo

longa tarde desbotada em sua quietude 
no olhar do cão um deserto a perseguir 
na estante a beleza calada
como tudo mais na casa 
[uma varanda por varrer
um outono por retirar da relva] 
esse diário de páginas inúteis 
& o amontoar de amargos dias
[vinte e nove de novembro... caros amigos...] 
nada leva nada traz
sequer o filho virá esta  estação
& provável que nem às próximas 
rotas alteradas
                        o descarrilamento de vez 
[a voz do exílio chegando
                                         sob o lodo de tua boca] 
sua vista oculta pelo silêncio
seu tosco coração aquecido em sopa
em nada lembra o vigor de sua escrita 
agora move-se entre rasuras & nada mais 
a náusea de um canto escuro & mudo 
um amor fechando-se em sílabas
sequer o filho virá esta  estação
& provável que nem às próximas 
rotas alteradas
                        o descarrilamento de vez 
[a voz do exílio chegando
                                         sob o lodo de tua boca] 
sua vista oculta pelo silêncio
seu tosco coração aquecido em sopa
em nada lembra o vigor de sua escrita 
agora move-se entre rasuras & nada mais 
a náusea de um canto escuro & mudo 
um amor fechando-se em sílabas
mneumon vor der lethes


siehen die Gottolosen
auf den Felde
vernichten
die Sarons Rose

[tradução: ernani chaves]
[benoni araújo.
não por acaso dispersos, 2008]

velar o amor ou a morte
já não havia diferença
[ali estava a voz que apenas
não queria se transformar em gemido]
as palavras
................

                    escorrem horizontais
ajudam a dissolver os dias
a chuva ao final da tarde
nada além de lamentos
adorna esta cidade de porto
...............................sem marsua atmosfera de limo
& sempre a espera
destina-se a mim uma velha bússola
um mapa rasurado uma filha
heranças inconclusas

........................& de um sabor tártaro

[benoni araújo. não por acaso dispersos, 2008
]
port bou: a fronteira de um atrabiliário



trouxeram-te a melancolia por herança
ninguém a suportaria
destinatário desta solidão
amigos te escreveram & escreveram
as cartas nunca chegaram
refugiado numa rua de mão única
dela fizeste tua trincheira
uma esperança tão inútil
quanto as asas de um anjo
[filho predileto teu olhar teu horizonte
estilhaçados]
nem tudo melhora depois de uma guerra
amor morte selos postais: o que mais
caberia em tua maleta de passagens?
já não corres atrás de uma aura
mal atravessaste os pirineus
caíste na última fronteira da razão
nem te adiantaria colher flores
à margem de um rio
[resolveste te juntar a elas!]

[benoni araújo. não por acaso dispersos, 2008]
diário silencioso do último ano



cacos espelhados de narciso no quarto
quantas imagens fui [& já não sei?!]
palavras postas páginas mortas
.......................................neste dia
[estou cansada cada vez mais...& insatisfeita]
olhos rasos de água
mergulhada no tejo & no tédio
esse amor não quer que respire
no mar nem na mágoa
morrer à míngua & de excessos
a quem apelar [apeles?!]
uma alma um mal silencioso & asfixiante
sombra fugidia de um sonho
para sempre perdido
não devem haver gestos novos
apenas desejos vãos & fanatismo
mágoas saudade flor reliquiae
[à tua espera então entorpecer-me etc]

[benoni araújo. não por acaso dispersos, 2008]
keine rose für celan



esse espinho que atravessa teus olhos
cria a raiz de um silêncio
lugar de ausência & ansiedade
verbo sem carne
carne sem fibras
[eterna tradução de ninguém]
selam com a morte estas unhas cheias de terra
[lavras o campo ou as campas ?]
a rosa testemunha as larvas
num outono que consome folhas
em tuas mãos
despetalado entre pedras
em sílabas entrecortadas pelos lábios
a fratura da palavra
num grito de desaparecimento
[ou silêncio nas águas lustrais do sena]
atalho que conduz ao abismo
longe dos homens & de deus

[benoni araújo, não por acaso dispersos. 2008]